quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Cinemeira desde criancinha


Inauguração do Comodoro, em 1959 - Foto: Folha da Manhã

Prefiro o termo cinemeira para me definir, pois cinéfilo não se encaixa no meu perfil: não sou uma estudiosa do tema e meus conhecimentos são basicamente pragmáticos. Não fico atrás da produção deste ou daquele diretor – geralmente o que me agrada são temas e atores – e muito menos sou rata de mostras: odeio filas e maratonas, de correria já chega o trabalho... Também não sou de seguir críticas, porque, para mim, cinema é algo absolutamente subjetivo...

Sou um ‘bicho’ criado com TV – não brincava na rua nem na casa dos outros. Desde pequena, via seriados como Perdidos no Espaço, A Feiticeira, Jeannie, Família Dó-Ré-Mi, Os Waltons, e desenhos como Mandachuva, Jetsons, Flintstones, Os Muzzarela e muitos mais! Tentava ficar acordada vendo as Sessões Mistério da Globo e Bandeirantes, e o seriado adulto Hawaii 5.0 (que – pena – nunca mais passou na TV). Foi assim que virei fã de Hitchcock, Vincent Price e Christopher Lee, entre outros tantos.

Gosto mesmo é de ver filmes na telona, o que faço pelo menos uma vez por semana e, sempre que possível, vejo dois de uma vez, ‘para aproveitar a viagem’ – como dizia minha mãe’ – e geralmente os descontos. Para ver em casa, não baixo nada da internet nem alugo DVDs, pois tenho pilhas de fitas (sim, ainda uso vídeo!) com filmes que gravo na TV a cabo para ver naquelas horas que não tem nada de bom... Por exemplo, este ano, até o dia 20 de janeiro, já vi 25 filmes, a maioria gravados (mais de um por dia) e, mesmo assim, a pilha só vai aumentando...

Sem contar os programas de entrevistas e seriados que vejo – só não assisto novela... Aliás, quando fiquei sabendo que a nova novela das 7 da Globo – Tempos Modernos – era do dramaturgo Bosco Brasil e retrataria o centro de São Paulo, arrisquei ver o primeiro capítulo, mas não me atraiu. Perdi mesmo o hábito de ver novelas – e isso faz MUITOS anos...


Praça Roosevelt: foto atual das proximidades do antigo Cine Bijou

Cinemas que já eram – Voltando às salas de cinema, desde que me conheço por gente – imagino que tinha 4, 5 anos de idade – eu as frequento. Muitas delas não existem mais, e me trazem recordações, embora um pouco nebulosas. Lembro, por exemplo, que ia ao centro, mas não das salas específicas, apenas de algumas: Regina, Ipiranga, o enorme Comodoro (ao qual fui até adulta) e Metrópole, que cheguei a frequentar na adolescência. Todos eles já estavam decadentes e jamais eu poderia ir sozinha ou com amigas, como faço hoje. Lembro ainda que, no centro, fui algumas vezes ao cine Arouche, que passava filmes de arte, e a um na Sete de Abril (Coral?), que teve uma curta fase de exibição de bons filmes. Sem esquecer dos filmes de arte do Cine Bijou, na Praça Roosevelt (foto), que hoje abriga muitos teatros. Foi lá que assisti Laranja Mecânica com ridículas bolinhas da censura “perseguindo” a nudez dos artistas. Vem dessa época (anos 80), aliás, o hábito de ir ao cinema sozinha.

Nas Perdizes, no “pé” do Minhocão, havia o Esmeralda, fácil de ir pra quem morava na Lapa. Nesse (meu) bairro ia muito ao cine Tropical, na Rua Roma, ver as sessões zás-trás de desenhos. Um pouco menos ao Jacymar (na N.S. da Lapa), Turiaçu (onde hoje é o Shopping Bourbon e havia o Superbom) e Havaí, na mesma rua. Havia outros cinemas na Lapa que não cheguei a conhecer, e hoje existe apenas o do Shopping da Lapa, ao qual não cheguei a ir depois de virar um complexo. Do Nacional – na Rua Clélia, ocupado depois pela grandiosa casa de shows Olympia – lembro que passava filmes mais ousados. Foi lá que vi com minha turma – toda de menores de idade, que deixavam entrar – Dona Flor e Seus Dois Maridos.

Na região da Paulista, fui à inauguração do Gemini, agora bem caidinho, e lembro de ter visto o filme do Led Zeppelin (The Song Remains the Same) no então Majestic, hoje Espaço Unibanco, na Rua Augusta, mesma rua onde havia, para o lado dos Jardins, o Vitrine, que frequentei até o final, em 2006.

Fiz faculdade na Paulista e passei a frequentar ainda mais os muitos cinemas que ali existiam. Filmes de arte e blockbusters víamos no Bristol ou Liberty – que também viraram complexo – e no Astor, hoje ocupado pela Megalivraria Cultura, no Conjunto Nacional. Numa galeria da Brigadeiro, havia o menos cotado Paulistano e mais um cujo nome não me recordo. Para o lado do centro, onde hoje é o Teatro Abril, fui algumas vezes ao Cine Paramount – conheci o teatro quando ia, pequena, com minha mãe, assistir aos programas de auditório. Até recentemente, ia ao Top Cine (que também fechou em 2006), ao lado dos cines Gazeta, Gazetinha e Gazetão, hoje Reserva Cultural.

Onde quer que eu vá – O cinema sempre fez parte de minha vida até nas viagens, a passeio ou trabalho. Morei seis meses numa pequena cidade paulista (hoje média), Itapeva. Lá havia um único cinema, que exibia filmes diferentes, apenas uma vez por semana. A sessão começava às 20 horas, e se passasse das 22 horas, poucos ficavam, pois os jovens (principalmente as jovens) deveriam ir para casa cedo... E isso em plenos anos 80!!

Numa viagem a Ubatuba, assisti ao simpático Onze Homens e um Segredo (2001); em Brasília, vi A Fuga das Galinhas (2000); em Salvador (2004), vi um dos poucos filmes ousados com Meg Ryan, Em Carne Viva; e em Porto Alegre, nos anos 80, assisti a um filme que amei: Feitiço da Lua (1987). Fui a Caldas Novas (GO) há muitos anos, quando ainda não havia cinema. Na próxima visita a uma grande amiga que mora lá, provavelmente irei...

Gosto mesmo de ir sozinha ao cinema, curtindo um momento só meu, quase de reflexão. E sou daquelas que fazem ‘shhhhh’ para os mal-educados que insistem em ficar batendo papo e falar ao celular, inclusive consultando as horas ou os torpedos e ligações, acendendo aquela luzinha irritante... Infelizmente, ninguém mais usa relógio de pulso nem bom senso, e muito menos respeito!...

10 comentários:

Anônimo disse...

Olá,
Não sei explicar direito, mas algo que gosto muito dos cinemas é o "cheiro", sei lá, se são as picocas, os doces, aquela atmosfera que emana de estrutura vazia repleta de poltronas.
Na adolecência frequentava muito cines de bairros, aquelas salas enormes, principalmente o Anchieta no Ipiranga, nas famonas matinês.
Será que esses cines eram tão grandes assim ? Ou será que eramos simplesmente crianças descobrindo o mundo ?

Luis Biason

Laila Guilherme disse...

Os cinemas eram mesmo grandiosos, Luís. Tela e plateia, sem contar os halls triunfais. Tanto que os poucos que permaneceram se desdobraram em várias salas... Claro, sem o mesmo glamour... Exemplo: encontrei na internet uma história sobre a exibição do filme "Terremoto" no Comodoro, que literalmente abalava as estruturas dos prédios vizinhos. Hehe...

Anônimo disse...

Eu lembro quando assisti a estréia de Tubarão no Metro (Era na São João?) na primeira fila. Vixê ... o bicho era muito grande.

Luis Biason

Ligia Sarrumor disse...

Nossa, mas que "Enciclopédia" legal esse post! Gostei Laila, você deveria mandar para a Wikipedia, tipo "cinemas de São Paulo", sei lá. Bjos!

pituco disse...

laila, queridona,

tudo isso é memória e das boas...somos do século passado...rs...portanto mais intolerantes, talvez?...não sei

também percorri todo esse circuito descrito por ti...e foi no cine gazeta, que dei meu primeiro beijo na namoradinha...aliás, foi ela quem tomou a iniciativa...rs

bacci mille
namaste

Laila Guilherme disse...

Que lembrança boa, Pituco! Meu primeiro beijo não foi em cinema, foi em baile. Aliás, sempre odiei ir ao cinema pra namorar - hehe!

Laila Guilherme disse...

Lígia: nem tanto...

Virginia Finzetto disse...

Laila, que registros legais... Eu também curtia muito ir ao cinema sozinha. E, principalmente, frequentar as grandes salas. Minha primeira experiência como cinemeira foi aos 5 anos de idade, quando meus pais tiveram de me tirar da sala tamanho berreiro que aprontei quando o patinho morreu...rs Inesquecível mesmo, e a minha maior viagem cinemética, foi assistir no "Cinerama", em 1969, ao filme 2001: UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO. Era tudo mágico, coisa que mesmo o som digital de hoje não consegue recuperar (pelo menos em clima...). Ah, você lembra do Cine Brasília, na City Lapa? Ali eu vi o HELP! beijos

Laila Guilherme disse...

Virgínia: essas lembranças tão marcantes são uma coisa que ninguém tira da gente. E pra cada um tem um significado...

Cine Brasília, na Rua Mercedes, ouvi falar, depois virou Pão de Açúcar e loja de acessórios. Não cheguei a conhecer, assim como um que ficava onde há muitos anos estão instaladas as Lojas Americanas, na 12 de Outubro, e cujo nome não me recordo.

Virginia Finzetto disse...

Ah, desse eu me lembro também. Era o Cine Carlos Gomes!
beijos