quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O triste fim do Belas Artes

Rodrigo Capote/Folhapress
Ainda na semana passada estive lá. Assisti, aliás, a um ótimo filme, um desses que chamo de “pequenos grandes”: O Bom Coração. Há alguns anos, o Belas Artes tinha uma ótima promoção às segundas-feiras, com ingressos a R$ 4 – meia-entrada bem ampla, não só para aposentados e estudantes. Mas, não teve jeito.

O ano começou triste para esse cinema nascido há 68 anos (a história vem desde 1943, embora a data da fachada seja 1952), cujos filmes embalaram sonhos de tantas gerações. E, consequentemente, para os cinéfilos, que assistem ao fim de mais um cinema de rua na maior cidade brasileira. Agora é definitivo: um dos mais antigos cinemas de São Paulo ainda em funcionamento se prepara para as últimas sessões. No dia 30 de dezembro, uma notificação judicial avisou: o imóvel, na esquina da Avenida Paulista com Rua da Consolação, tem de ser entregue até fevereiro.

A ameaça de fechamento veio a público em março de 2010, quando o HSBC pôs fim ao patrocínio. André Sturm, o proprietário, começou então a bater à porta de algumas empresas, atrás de nova parceria. Após muita negociação, em novembro surgiu novo apoio. A minuta do contrato estava sendo finalizada quando veio a má notícia. “O proprietário disse que queria o imóvel de volta porque ia abrir uma loja lá”, diz Sturm.

O dono do cinema conta que havia se comprometido a pagar um novo valor de aluguel, de R$ 65 mil, assim que fechasse o patrocínio. “Tínhamos um acordo, mas ele não cumpriu”, comenta.

Procurado, o proprietário do imóvel, Flávio Maluf, nem ouviu a pergunta. A identificação da reportagem da Folha foi suficiente para que dissesse não ter nada a declarar. “Ligue para meu advogado”, recomendou. Enquanto ditava nome e telefone, interrompeu a fala e perguntou: “Mas é a respeito de quê?”. Informado, ensaiou uma explicação: “Perderam o prazo... Não tenho nada a declarar”. O advogado não retornou as ligações.

Ontem, os 32 funcionários receberam o aviso prévio.

Última fase – Sturm assumiu o cinema em 2002, quando os antigos proprietários decretaram o negócio inviável. O espaço estava com as instalações decadentes e a programação descaracterizada. Vieram a seguir a sociedade com a O2, produtora do cineasta Fernando Meirelles e, em 2003, o apoio do HSBC.

A ameaça do fim, em 2010, fez com que, no ano passado, a cidade se mobilizasse para salvar o Belas Artes. A campanha tanto deu resultado que o patrocínio chegou. Dentre as marcas que esta última fase deixará estão o “Noitão” e a longa permanência de alguns filmes.

Vários títulos ficaram mais de um ano em cartaz: O Filho da Noiva, Elsa & Fred, As Bicicletas de Belleville (imagem), 2046 – os Segredos do Amor e Medos Privados em Lugares Públicos (ainda em exibição), entre outros.

Fonte: Folha.com

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