Ainda na semana passada estive lá. Assisti a dois bons filmes: Amor e Outras Drogas e Cisne Negro. Estava a maior movimentação, em plena segunda-feira, talvez ainda pela possibilidade de um acordo e da sobrevida de um cinema que faz parte de muitas gerações. Eu mesma frequento as salas há muitos anos, desde a adolescência.
A seguir, algo que não costumo fazer. Reproduzo a notícia publicada hoje no Estadão, que inclui entrevista com o advogado do dono do prédio, que não aceitou proposta de aluguel viabilizada pela conquista de novo patrocinador. A notícia saiu também na Folha, porém com menos detalhes.
Evelson de Freitas/AE (5/5/10) |
Bruno Paes Manso - O Estado de S.Paulo
Nem as manifestações sucessivas feitas desde janeiro, nem os mais de 70 mil filiados ao Facebook contra o fechamento do Belas Artes serviram para levar o proprietário do imóvel na esquina da Avenida Paulista com a Rua da Consolação a renovar o contrato de aluguel com os donos do cinema. Assim, o Belas Artes, que funciona no mesmo local desde 1943, vai fechar as portas na próxima quinta-feira, dia 24.
Ontem, um dos sócios do cinema, André Sturm, recebeu a negativa para sua última cartada comercial. Com o apoio de um patrocinador, Sturm havia oferecido na segunda-feira aluguel de R$ 1 milhão por ano (R$ 85 mil mensais) ao dono do imóvel, Flávio Maluf. O proprietário recusou a oferta. O valor pago atualmente, reajustado no ano passado, é de R$ 63 mil. O dono do prédio quer receber R$ 150 mil mensais.
A última sessão de filmes vai ocorrer na quinta [24/2/11]. Depois, serão mais quatro dias para esvaziar e entregar o prédio. "Quero fazer algo para cima. Mas ainda não tive tempo para pensar em nada, porque estava muito ansioso e tinha esperança de reverter a situação", diz Sturm.
Apesar do fim da negociação, ainda corre no Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Conpresp) o processo de tombamento do Belas Artes. Caso ocorra, as restrições impostas ao imóvel podem limitar o uso e a negociação do prédio. Antes de decidir, conselheiros aguardam um parecer do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) da Prefeitura sobre o assunto. "Desde a abertura do processo, ainda não voltamos a discutir o caso. É importante primeiro termos o parecer", disse o arquiteto José Eduardo Lefèvre, presidente do conselho.
Segundo Lefèvre, existe uma dificuldade porque o caso do Belas Artes não pode se enquadra nem como "tombamento material, nem como imaterial". O primeiro está voltado a preservar aspectos físicos e arquitetônicos de um prédio. Projetado nos anos 1940 pelo arquiteto italiano Giarcarlo Palanti, o imóvel sofreu várias reformas internas e na fachada nas décadas seguintes, diminuindo sua relevância arquitetônica.
No caso do tombamento imaterial, a decisão ocorre para que sejam determinados parâmetros de movimentos culturais relevantes, como é o caso do frevo, em Recife. "O que seria tombado no Belas Artes? A lei não permite definir um tipo de uso para o imóvel, por exemplo. Também é inviável tombar a programação. Mas, ao mesmo tempo, é inegável o valor do cinema para a cidade. Ele foi abraçado pela coletividade. Essas questões serão estudadas pelo DPH e deliberaremos a respeito", diz Lefèvre.
Zoneamento. Para a arquiteta Raquel Rolnik, professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo, o caso do Belas Artes evidencia como as autoridades de São Paulo não têm conseguido usar de forma adequada as políticas de zoneamento, instrumento que determina o uso e a ocupação do solo na cidade. "Em São Paulo, o zoneamento é visto de maneira torta, para se definir quantos andares podem ser construídos em cada bairro. É a lógica do mercado imobiliário", diz. Ela defende que o zoneamento seja usado para estabelecer áreas da cidade para interesses sociais e ambientais. "Como esse costume não existe, o tombamento se transformou em um instrumento de resistência, o único que permite levar em conta valores diferentes aos pregados pelo mercado."
TRÊS PERGUNTAS PARA...
Fabio Luchesi Filho, advogado do dono do imóvel do Belas Artes, Flávio Maluf:
1. Vocês vão ter o prédio de volta na próxima semana, dia 28. Que fim pretendem dar ao imóvel?
O proprietário (Flávio Maluf) já decidiu que não pretende renovar com nenhum novo cliente enquanto o Conpresp não decidir se o imóvel vai ou não vai ser tombado.
2. As informações são que vocês pedem R$ 150 mil mensais de aluguel. E que recusaram a oferta de R$ 85 mil. São esses mesmos os valores?
Os valores acabaram ficando para segundo plano. Precisamos primeiro esperar que a situação jurídica se resolva.
3. Caso o Conpresp se decida pelo tombamento, vocês considerariam a hipótese de voltar a alugar o prédio para os proprietários do Belas Artes?
Essa é uma questão que ainda deve ser analisada pelo proprietário. Difícil responder antes de uma definição.
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