terça-feira, 16 de março de 2010

O cinema negro norte-americano


Tenho pilhas de fitas de filmes que gravo e vou assistindo quando posso, quatro a cinco filmes em cada fita. Só ontem conseguir assistir a um filme que passou há uns meses no TCM, O Sol tornará a brilhar (1961). O atrativo era a presença de Sidney Poitier, o primeiro ator negro que ganhou papéis principais. Na filmografia que conheço dele, destacam-se papéis em que luta contra o preconceito racial – acirradíssimo nos EUA dos anos 60, quando ele a carreira dele estava no auge. Ele é mais conhecido por Ao Mestre com carinho (1967), em que interpretava um professor que conseguiu, com muita luta, controlar seus rebeldes alunos. Depois desse, muitos filmes sobre o tema surgiram – recentemente, vi um com Antonio Banderas, que conquistou fãs de rap com danças de salão.

Sidney Poitier sempre fez o bom moço – pelo menos depois de Ao Mestre..., que naquele ano lhe rendeu mais dois filmes, Adivinhe quem vem para jantar e No Calor da noite. Não é o caso de O Sol tornará a brilhar, em que interpreta o personagem Walter Lee, um motorista particular que vive num cubículo com a mulher, dois filhos e a mãe. A casa é da mãe, que está para receber uma bolada do seguro do marido, falecido recentemente, e quer construir o "futuro da família". Claro que Walter Lee está de olho no dinheiro dela, para investir num negócio de bebidas, que seria a conquista de sua independência. A encenação é bem teatral – gosto disso no cinema –, fotografia em preto e branco e ótimo elenco, dos quais estão vivos somente o próprio Poitier, hoje com 83 anos, e a atriz que faz sua esposa, Ruby Dee, ainda ativa em filmes para a TV e cinema, aos 85 anos. Há alguns anos, Poitier foi homenageado em um Oscar por sua carreira, mas não soube mais dele.

Spike Lee e Denzel Washington

Em minha opinião, Sidney Poitier foi o desbravador do que hoje se pode chamar de “cinema negro”. Eram relativamente tímidas suas atuações em personagens que discutiam e enfrentavam questões racistas. Claro, muito ousadas para a época. Mas foi Spike Lee quem trouxe à tona toda essa efervescência, em filmes que retratavam a ferro e fogo os conflitos entre brancos, negros e latinos. Em Faça a Coisa Certa (1989), recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original e Melhor Diretor. Ganhou menção especial no Festival de Cannes pelo ótimo Febre da Selva (1991).


Em A Última Noite (2002), que acho excelente e não deve ser confundido com o de Robert Altman, bem diferente, Spike Lee começou a mostrar outras questões, como o último dia de um homem antes da prisão. O Plano Perfeito (2006) trata de um engenhoso assalto, que deve ser desvendado pelo “herói” Denzel Washington (aqui, os papéis se invertem: o vilão é o branco Clive Owen). Aliás, Denzel e Wesley Snipes, que começaram com Spike Lee, hoje só têm feito papéis de heróis em filmes de ação. Denzel, com seu charme e elegância, poderia ser o herdeiro cinematográfico de Poitier. Será? Aproveite para comparar as fotos acima...

Pena que Milagre em Santa Anna (2008) – que retrata a guerra sob o ponto de vista dos soldados negros – tenha sido tão maltratado aqui no Brasil, onde passou pouquíssimo tempo nos cinemas e ainda não consegui assistir. Surgiu depois de Cartas de Iwo Jima e a Conquista da honra (2006), de Clint Eastwood, que também retratavam a guerra sob diferentes pontos de vista e foi muito mais divulgado.

Claro que o cinema negro norte-americano tem outros destaques, principalmente em temas e atores, mas disso tratarei em outra oportunidade.

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