segunda-feira, 8 de março de 2010

No Dia da Mulher, é uma delas quem leva os principais Oscars

Cena do filme Guerra ao Terror (divulgação)

O fato de uma mulher levar os principais Oscars (melhor filme e direção) em 2010 é ótimo. Porém, o absurdo é que isso ocorra pela primeira vez em 82 anos! E mais: Kathryn Bigelow, com seu Guerra ao Terror, foi apenas a quarta mulher indicada à estatueta de direção nos 82 anos do prêmio da Academia.

James Cameron e Kathryn Bigelow (Foto: AP)

Bonitona, sem aparentar seus 58 anos e – coisa rara – sem sinal de plásticas ou botox, Kathryn derrubou todas as bancas de apostas, que previam uma “ação entre amigos”, que daria o prêmio de melhor filme para a superprodução Avatar, campeão de todas as bilheterias e coincidentemente dirigido pelo ex-marido James Cameron (que já havia arrebatado grandes prêmios com Titanic), e o de direção para o independente Guerra ao Terror. Com audiência modesta, pelo menos até agora, Guerra ao Terror foi lançado no Brasil direto no DVD, e só quando foi indicado entrou em cartaz nos cinemas. E, mesmo perto da data da premiação, a distribuidora reduziu o número de salas de exibição.

Claro que isso deve mudar esta semana (pelo menos espero), inclusive com Preciosa (ainda não consegui ver nenhum dos dois), que levou os prêmios de melhor atriz coadjuvante para Mo’nique, e de roteiro adaptado. Esse é outro que foi lançado em várias salas e agora está em apenas três, aqui em São Paulo.

Guerra ao Terror, além dos prêmios principais, ganhou também por edição e mixagem de som (não entendi o porquê de prêmios separados para a mesma categoria) e montagem, novamente desbancando Avatar, e de roteiro original, categoria na qual o favorito do ano não competia.

Para mim a premiação foi surpreendente, porém justa, já que achei Avatar um filme essencialmente técnico, e por isso levou (e mereceu) os prêmios de fotografia (por sinal, de um italiano, Mauro Fiore), direção de arte e efeitos visuais. Ou seja, metade dos prêmios conquistados por Guerra...

Li que a nova forma de votação está sendo questionada, já que, este ano, valia o maior número de votos para determinado filme entre os quase 6 mil votantes, não necessariamente entre os primeiros da lista. Fora o novo método, não há novidades, pois o Oscar, ultimamente, tem premiado filmes não necessariamente grandiosos ou de maior bilheteria, e sim aqueles que tenham alguma mensagem, com a tendência de premiar um só título como melhor filme e direção, caso de Quem quer ser um milionário? (2009) e Onde os Fracos não têm vez (2008), só para citar os mais recentes prêmios para filmes “pequenos”, além de Os Infiltrados (2007), que pela primeira vez premiou o até então injustiçado e preterido Martin Scorsese. Em 2005, foi a vez de Clint Eastwood ser agraciado com os dois prêmios principais por Menina de Ouro.

Com exceção de Scorsese e Eastwood, nas últimas seis premiações, foi em 2006 que a Academia passou a premiar os tais “pequenos filmes”, dirigidos por cineastas pouco conhecidos. Naquele ano, Crash levou o prêmio de melhor filme e o de direção foi para O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee, que, embora famoso, gerou polêmica pelo tema do “romance gay” de seus protagonistas.

Por sinal, a própria Kathryn Bigelow não tem grandes filmes no currículo, e o mais conhecido deles talvez seja Caçadores de Emoção (1991), com a dupla de “surfistas” Patrick Swayze e Keanu Reeves.

Minha experiência com a cerimônia

Anos atrás, eu não tinha a menor paciência de ficar quatro horas grudada na TV para ver a cerimônia, que tinha incontáveis e intermináveis números musicais. Ultimamente, ela ficou reduzida quase à metade, e procura dar um tom de humor em suas apresentações.

Quem não tem o privilégio de ter TV a cabo teve de esperar o final do BBB para a Globo começar a exibir o Oscar. Na TNT, pude ver o Tapete Vermelho e os primeiros prêmios. Quanto ao Tapete, quem não viu não perdeu nada, já que as perguntas são as mais descabidas, as respostas idem, e a intenção, ali, é apenas mostrar as grifes vestidas pelas celebridades, muitas delas de gosto duvidoso.

Este ano, Steve Martin novamente subiu ao palco, dividido com o parceiro de filme Alec Baldwin. Ambos formam um trio amoroso com Meryl Streep, em Simplesmente Complicado (ainda não vi, ouvi falar mal, mas acho que só pelo elenco já vale). Este ano, a campeã de indicações mais uma vez não levou o prêmio. Ela estava indicada por seu ótimo desempenho em “Julie e Julia”, mas quem ganhou foi Sandra Bullock, por Um Sonho Possível, em um de seus raros papéis em drama, e que também ainda não vi. Sandra, por sinal, havia recebido, com o maior bom humor, a Framboesa de Ouro como pior atriz, na comédia Maluca Paixão. O prêmio para Sandra Bullock e Jeff Bridges (melhor ator, por Coração Louco) era esperado.

O bom é que foi abolida (com raras exceções) a subida de imensas equipes para o recebimento de premiação – o que gasta muito tempo! E totalmente podados os longos discursos.

Uma das partes de que mais gosto é a homenagem às pessoas de cinema falecidas no ano anterior. Um deles foi Patrick Swayze, e até Michael Jackson, com pequena filmografia, foi lembrado. Porém, Farrah Fawcett, que morreu no mesmo dia que ele (25 de junho), foi esquecida. Foi bonita a homenagem – em vida, o que é mais importante – aos veteranos Roger Corman, o rei dos filmes B, e Lauren Bacall, embora não tenham tido a oportunidade de subir ao palco e mal tenham sido mostrados.

Também foi ótima a homenagem aos filmes de terror, sempre relegados pela Academia. Na montagem de cenas de diversos filmes, atores hoje famosos aparecem em início de carreira, um deles Johnny Depp, em A Hora do Pesadelo.

Ben Stiller maquiado como Avatar (Foto: Reuters)

Clooney de cara feia

Achei estranha, no início, a feição carrancuda de George Clooney – que mais ao final resolveu sorrir um pouco. Acho que não era encenação, pois os apresentadores nem ousaram fazer piadas com ele. Senti a ausência dos sempre presentes Jack Nicholson, Nicole Kidman e Brad Pitt – que fez parte do elenco de Bastardos Inglórios, que deu o prêmio de ator coadjuvante a um novato (pelo menos em Hollywood), o austríaco Christoph Waltz. Em compensação, foi hilária a participação de Ben Stiller para dar o prêmio de maquiagem, caracterizado como um Avatar – com rabo e tudo –, embora com roupa de gala.

Vale ressaltar que todos os documentários (que dificilmente devem passar por aqui) concorrentes falavam de causas justas e faziam denúncias, e o premiado foi The Cove, sobre as violentas mortes de golfinhos no Japão para consumo de sua carne, e que eu dificilmente teria coragem de assistir. Um dos produtores, aliás, é um ator simpático, porém pouco expressivo nos cinemas e mais atuante em papéis de vilão em seriados de TV, Fisher Stevens. Por fim, o argentino O Segredo para seus Olhos derrubou a favorita produção alemão A Fita Branca, como melhor filme estrangeiro.

A fase madura do Oscar pelo menos dá a oportunidade de filmes que não apareceriam para o grande público ganhar notoriedade e receber o lançamento e a divulgação que merecem. Premiar o óbvio e os já campeões de bilheterias deixa de lado talentos promissores que, só com a nova fórmula, passam a ganhar mais oportunidades no cinemão.


SHOWS EM HOMENAGEM À MULHER

Aproveito para passar a dica de uma série de shows que o Sesc Ipiranga está promovendo no mês da mulher. Em Elas por elas, cantoras homenageiam intérpretes e compositoras do sexo feminino.

Sábado fui ver a primeira delas, Karina Ninni, que fez um belo show em homenagem a Dolores Duran. Não a conhecia e gostei – da voz, da banda e da escolha do repertório, que ela foi didaticamente explicando. Confira o restante da programação, sempre gratuita, todo sábado, às 18 horas:

Dia 13 – Regina Dias canta Maysa

Dia 20 – Bia Góes canta Aracy de Almeida

Dia 27 – Ilcéi Mirian canta Clara Nunes

Dia 3 – Mysty e Adyel cantam Clementina de Jesus e Elizeth Cardoso

Onde: Rua Bom Pastor, 822 – Ipiranga

5 comentários:

Daniela Blanco disse...

Oi Laila!
Obrigado por comentar la na Revista Capitu! Ficou feliz que gostou das dicas dos artistas. :)

Gostei muito do seu texto. Realmente é muito triste saber a ridícula (em termos de quantidade) participação das mulheres no Oscar. Pior é saber que a quantidade de mulheres que realmente chegam a ser diretoras de filmes em hollyood é minúscula em relação aos homens.
mas como vocie mesma disse, o Oscar está em sua faze madura. Com certeza! O Oscar, como uma academia responsável pela escolha dos melhores representantes de sua classe, não deria escolher aquilo que o público (leigo) escolhe: os filmes de maior bilheteria. Amei Avatar, mas também acho que recebeu os prêmios que merecia. Quanto ao campeão Guerra ao Terror, ainda não assisti, mas pelas descrições e críticas, me parece ser realmente incrível. E com certeza mostra mais conteúdo que o primeiro. :)
Bjos! E feliz dia da mulher!

Anônimo disse...

Laila, adorei o texto! Você escreve em algum caderno de Cultura?
Assisti a dois shows no Sesc neste final de semana. Faço das palavras da Fernanda Takai quase um mantra. "Não cansei de ser Sesc". Sábado vi um show em "homenagem" a Assis Valente. Explico as aspas: em todos esses shows que se propõem a homenagear um compositor ou cantor, o que a gente menos toma conhecimento é do homenageado em si. Assis Valente foi um dos grandes compositores brasileiros, pertencente, na minha opinião, à melhor geração que tivemos. É contemporâneo, no Rio dos anos 30, de Ary Barroso, Lamartine Babo, Noel Rosa, Joubert de Carvalho... Pois é, mas não havia nada que falasse a respeito dele. Dessa vez (estranhamente) nem a programação das músicas. Acho que isso empobrece um pouco a homenagem, porque seria muito bom que a gente saísse de lá com um conteúdo a mais sobre o artista. Sobre o show em si, foi bom, principalmente a participação da Baby Consuelo e seu (dele) "Brasil Pandeiro". Ah...e ela tá linda! Minha nossa...
No domingo assisti a uma indicação do blog! Fui no show da Leila Pinheiro. Ao contrário do último show que tinha ido, achei o este "pesado" demais. Músicas de separação, dor de cotovelo, desilusões. Lupicínio (acredite!) é mais leve. Não gostei muito porque não me emocionou. Semana que vem tem um bem legal, da Elza Soares com a mesma Baby Consuelo. Pretendo assistir. Continuo acompanhando (e recomendando) o blog! Grande abraço,
Renato

Laila Guilherme disse...

Que bom ter novos leitores e fãs!

Daniela: de fato, há poucas diretoras, e a maioria é voltada a filmes românticos. Kathryn é uma exceção, porque trabalha com ação. Será por isso que foi premiada? Enfim, logo mais vou conferir se mereceu, pretendo ver o filme. Vale lembrar que o cinema brasileiro tem cada vez mais diretoras talentosas e ampla gama de temas. Que bom!

Renato: muitas vezes as "homenagens" a artistas me decepcionam porque, no afã de criar arranjos inovadores, os músicos pegam pesado e por vezes "acabam" com alguns clássicos.

Vou ver Baby/Elza/Ademilde, sábado (13). Não bobeie! Já comprei e peguei fileira P!

BEIJOS A TODOS!

pituco disse...

oi laila,

obrigadão pela visita e comentário carinhoso, lá no blog.

mulheres por trás das câmeras?...no brasil há poucas e boas, não é verdade?

o texto está tão bacanudo que parece que assisti a premiação...rs

bacci mille
namaste

Laila Guilherme disse...

Que bom, amigo bacanudo! E nem precisou ficar horas na frente da TV - hehe!!

bacci mille!