domingo, 26 de dezembro de 2010

Revista Realidade ganha livro

Divulgação
Zé Hamilton e Marão, autores do livro
Fim de ano é tempo que tradicionalmente os meios de comunicação dedicam a balanços e retrospectivas. Talvez por isso, no início desta semana foi lançado em São Paulo um livro sobre a revista Realidade, Realidade Re-vista, escrito pelos jornalistas José Hamilton Ribeiro e José Carlos Marão, que trabalharam na redação da revista que daria origem e “inspiração” às semanais de hoje.

Convencer um coronel do Nordeste a receber a revista Realidade para um perfil, em pleno 1966, não era tarefa fácil. Só depois da intervenção de “embaixadores”, como recorda o jornalista José Hamilton Ribeiro, o velho Chico Heráclio aceitou abrir a varanda de sua casa, em Limoeiro, no agreste pernambucano. E a dúvida deixou para tirar no último dia: teria de pagar pela reportagem? Ficou inquieto ao saber que não. Era indício conclusivo de que não controlaria o resultado.

Esses bastidores da apuração que abasteceu o texto “Coronel não morre”, publicado na edição de novembro daquele ano, são contados agora no livro. Outras 25 reportagens aparecem na publicação, acrescidas de contextualizações e detalhes que não podiam ser revelados à época, mas que diziam muito sobre aquele período. Nas informações que acompanham a outra reportagem política do volume, por exemplo, ficamos sabendo que um então jovem e promissor Íris Rezende, prefeito de Goiânia, também teve preocupações quanto à viabilidade financeira da publicação de seu perfil.

Estudos – Objeto de estudos por décadas, a Realidade circulou de 1966 a 1976, com fases bem distintas, depois que desandou a tentativa da Editora Abril de criar uma revista semanal de atualidades que pudesse ser encartada em jornais. O projeto que começou a se desenhar então era mais complexo. Seria uma publicação mensal que desse conta de assuntos do momento em áreas como política, saúde e comportamento. O desafio era abordar de maneira investigativa fatos do mês, já dissecados pelos jornais diários e pelas revistas semanais. Assim, como exemplifica Marão num dos textos de apresentação do volume, a morte do papa poderia ser mote para uma investigação sobre a sucessão na Igreja e a política entre os cardeais.

Havia também o regime militar em andamento, mas naqueles primeiros anos isso ainda não se mostrava grande empecilho. “Em 1966, 1967, a censura era mais um exercício de cautela da equipe, porque sabíamos que a coisa não estava fácil. Em vez de tomar posições ostensivas, buscávamos nos expressar pela ironia”, lembra Marão, hoje diretor do Observatório da Imprensa, e que tinha 25 anos ao se juntar a José Hamilton, alguns anos mais velho, na equipe que reunia apenas jovens de até 30 anos, como Paulo Patarra, Luiz Fernando Mercadante e Mylton Severiano da Silva.

O efeito da mistura de jovens jornalistas com um formato que eles mesmos não sabiam qual poderia ser teve resultados explosivos. A primeira edição alcançou venda de 250 mil exemplares, número que quatro meses depois subiria para 450 mil. “Há uma série de análises e estudos sobre o que a revista representou, o que influenciou o formato, mas tudo surgiu da nossa cabeça. Há quem diga que seguimos o new journalism americano. O que sabíamos era que estávamos fazendo uma revista mensal que tinha de lidar com tendências e ter um texto que atraísse o leitor. Realidade veio preencher um espaço”, diz Marão, que hoje coloca as revistas Brasileiros e Piauí entre as que mais se assemelham ao jornalismo feito na publicação.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo

Título: Realidade Re-vista
Autores: José Hamilton Ribeiro e José Carlos Marão
Editora: Realejo
436 páginas – R$ 70

Nenhum comentário: